terça-feira, 17 de setembro de 2013

A fumante e o cara barbudo.

"Largue o cigarro, venha, vamos conversar!"
Sentada no banco da rodoviária, apenas esperando o próximo ônibus com destino há uma cidade distante. Com a touca torta na cabeça, a roupa largada, o cabelo bagunçado e o cigarro entre os dedos, lá estava ela com o olhar perdido fitando o chão sujo do lugar. Planejava fugir sem rumo para qualquer lugar cujo não faz ideia de como voltar depois. Vai distanciar-se da vida que tem, esquecer um pouco dos problemas, correr daquilo que lhe assusta. "Cadê esse ônibus que não chega?" Com aquela cara de preocupação, olhando de um lado para o outro com o medo de que alguém pudesse a ver ali naquele estado e leva-la de volta para casa. Não, ela não quer voltar. Pelo menos não agora. Agora ela quer fugir.
Um homem de barba cumprida se aproxima. Calma, não é assalto. Não é estrupo. Mania feia de achar que homens de aparência diferente vão lhe fazer mal. Ela o encarou por alguns segundos, aquele olhar feroz de que não o quer por perto. Porém, ali ele se senta, ali ele se mantem. Silêncio. "Ocorrestes algo minha jovem?" Silêncio. "Pode falar comigo!" Silêncio. 
Largue o cigarro, venha, vamos conversar!
Menina do cabelo bagunçado da a sua ultima tragada e o joga fora. Olha para o homem barbudo. Sorri. Vira o rosto novamente. "Eles te tiraram do sério, certo? Eles fizeram você enjoar da vida, das pessoas, do mundo. Eles quebram o teu coração, te deixaram frágil. Eles fizeram você querer sumir. E pela primeira vez na vida você teve coragem de vir até aqui e ir." Seu coração bateu mais forte, seus olhos enxeram de lagrimas, sua perna tremeu e sua voz falhou. "Eu não posso continuar vivendo esta farsa. A minha vida é baseada em uma grande farsa. Eu acordo, sobrevivo um dia com uma droga de sorriso estampado no rosto e finjo que esta tudo bem. Quando na verdade, eu preciso dar um fora daqui." Afogou o rosto em seus joelhos, estava bastante estressada. Bastante. Demais. 
"Eu tenho que sair daqui!"
"Dar um fora desse lugar!"
"Mudar a minha vida!"
"Ter uma vida!"
Frases que tanto repetia, desabafando tão facilmente com aquele desconhecido. Estranho, não? "Você não conversa sobre isso com muitas pessoas, conversa?" "Não!" "Ok!" "Algum conselho?" "Apenas sou um bom ouvinte, e você não quer conselhos, quer falar. Ser ouvida sem ninguém lhe julgar ou lhe interromper. Te entendo. Fala, fala, fala e fala e se eu achar que preciso dizer algo, direi. Por enquanto, apenas fale."
E falou, falou, falou e falou. Confiou naquele homem teus maiores segredos, contou coisas que nunca tinha dito nem a própria sombra. Que leveza que sentiu, que alivio, que alegria. Precisava fazer isso mais vezes. E então, finalmente, depois de longos minutos - fora que ela perdeu vários ônibus sem nem se importar - o desconhecido achou que era hora de dizer algo. "Ainda quer dar o fora daqui?"
"Não mais, quero tomar um sorvete. Vem comigo?"
Porque as vezes o que você precisa para ficar bem é só desabafar, só.

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