segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

De onde vem sua inspiração?


    - Por que eu escrevo? Como consigo escrever de forma tão natural sem precisar pensar muito? É um dom?
    Joana tinha uma mania particular de observar as pessoas a sua volta. Na fila do supermercado ela observava uma mulher falando no celular com uma expressão preocupante e estava meio agitada enquanto falava. Em seu carrinho de compras, apenas comidas de baixa caloria e alguns produtos de limpeza. E enquanto observava a mulher, em sua mente, ela criava sua história e era mais ou menos assim: Maria, deveria ser seu nome. Gostava de organizar, de fazer tudo bonitinho. Uma casa bem arrumada, uma saúde exemplar, um bom livro ao lado da cama, um trabalho maravilhoso cuidando de crianças em creche. No entanto, ela tinha um problema: Era meia solitária, apesar de ter um namorado. Ele não a tratava tão bem assim, sempre arrumando motivo para brigas ou dizendo o quanto ela era chata e Maria ficava chateada, queria ser perfeita aos olhos dele. Por isso, tinha a saúde exemplar, a casa arrumada, a boa ação. Naquele telefone, ela apenas queria paz, queria parar a discussão. A jovem se declarava para o namorado, e ele nem correspondia. Mas fazer o que, Maria o amava tanto que faria de tudo para tê-lo ao seu lado, mesmo que ele nem ligue muito para isso. Dizem que ele já a traiu. O caso é que ela é romântica e meio que iludida, com aquela meia calça de bolinhas e o vestido rosa claro, parecia uma boneca de porcelana. Mas daquelas que quebram, e iriam chorar por pelo menos três dias seguidos. De volta à realidade, Joana observou outra pessoa e começou tudo de novo: Ela imaginou sua vida. Ficara ela pensando se isto era normal, criar história para a vida das pessoas que ela via conforme suas atitudes no momento, seu jeito de vestir ou sua expressão facial. Porque sempre que estava na fila do banco, criava varias histórias sobre várias vidas que ali estão e é claro que ela sabia que poderia nada daquilo ser verdade. Afinal, ela não é adivinha, nem nada.
    Andando na rua, com sua sacola de compras, ela viu uma mulher quase sendo atropelada por falta de atenção e novamente imaginou uma história que alias, daria um ótimo livro. Até porque, ela haverá sido salva por um homem com o sorriso de galã. Já em casa, Joana guardou seus alimentos e foi assistir um filme. Era romance e a história emocionava, durante o intervalo ela teve ideias sobre uma história do mesmo gênero, baseada no filme, no entanto com alguns detalhes mais emocionantes. Uma amiga a telefonou e desabafou sobre o termino do seu namoro, ambas choravam juntas e depois que desligaram, Joana escreveu um texto sobre o assunto, na primeira pessoa, desabafando por perder o namorado que tanto amava. Mais tarde viu um casal feliz passando na rua e implicando um com o outro, aquilo lhe deu vontade de escrever sobre o amor, sobre a implicância entre um casal, o jeito diferente como eles se amavam.
    E era assim, tudo que Joana escrevia tinha um significado. Raramente as coisas que ela escrevia eram seus sentimentos, até porque ela mesma não sentia muita coisa. O que mais lhe orgulhava pessoalmente era o fato de que ela conseguia escrever sobre a vida alheia. Ela conseguia desabafar em palavras o sofrimento de outra pessoa, ela conseguia demonstrar em letras o amor de uma mulher, ela conseguia escrever uma história de drama de uma família qualquer. Ela conseguia e era como um dom.
    Sua inspiração. Ela vinha de todos os lugares, inclusive das pessoas. Os amigos, os desconhecidos, os homens, as mulheres, todas as raças. As pessoas eram sua fonte de inspiração principal, graças a elas Joana conseguia fazer seus textos e livros. E se não fossem as pessoas, eram os personagens de algum livro ou filme. Tudo se envolvia ao ser humano. Sempre que perguntavam para ela de onde vinha sua inspiração, ela jamais soube responder. Demorou um pouco para entender, mas quando entendeu, percebeu que era obvio. A sua mania de ser observadora a inspirava, fazia com que ela tinha ideias incríveis. Ela não escrevia apenas para ela, escrevia para o mundo. Escrevia para a amiga que sofre, para o desconhecido que foi barrado no cinema, para o parente doente. Sua compreensão pelo que as pessoas sentiam faziam com que ela conseguisse repassar tudo para o papel sem fazer muitas perguntas ou ficar pensando por mil horas.
    - Você escreve não só por gostar, mas por ser comovida facilmente pela raça humana, pelas diversas personalidades e vidas que conhecemos por ai. Porque tudo isso te fascina, te inspira, como uma necessidade de traduzir em palavras a vida de alguém. Você escreve porque merece. É tão naturalmente como escreve, primeiro fica pensando em como começar, mas quando começa, não da pausas. Vai fluindo e sabe por que? Porque você já compreendeu toda a história e não precisa relembrar, pois tudo já esta fixado em sua memória. Acredito que seja um dom. Acredito que cada um de nós tenhamos um dom que Deus no deu, para mostrarmos o quanto somos diferentes e especiais. Apear de que algumas pessoas não conseguem enxergar o próprio dom, um dia, elas vão descobrir. O seu, é a escrita. Melhor, é o dom de saber escrever vidas, sem precisar fazer parte dela.
    E Joana sorriu, sabendo que não poderia parar de escrever. Era sua paixão, sempre foi e sempre será. O que a intrigava era que sempre escrevia sobre os outros, mas e sobre si? Não gostava de escrever sobre seus sentimentos, preferia tranca-los em outro lugar. De qualquer forma, ela estava feliz e pronta para escrever para alguém.

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