Eu havia levado flores para ela, rosas para ser mais exato. As paredes brancas daquele hospital me enjoavam profundamente. Nicole estava em sua cama, muito fraca já. Eu estava preocupado com tudo agora. Os médicos haviam dito que a possibilidade de Nicole viver eram mínimas.
- São para você, te amo! – Pus as flores do lado de sua cama. Nicole sorriu, mesmo sendo difícil para ela agora.
- Obrigada! Eu também te amo! – As mãos dela apertavam as minhas agora. Eu estava contente por tê-la só pra mim. Mas eu estava muito mal, não podia ser eu naquela cama? Não podia ser eu com noventa e nove por cento de chances de morrer? Eu realmente não pretendo viver sem Nicole.
- Espero que você fique melhor, sabe que não vou suportar continuar no mundo sem você! – Disse, dando um beijo nela em seguida. Ela sorriu, aquele sorriso que modificava a face de todos em volta de tão perfeito.
- Eu vou ficar melhor Guilherme, eu preciso de você! Eu não quero te deixar aqui e ter que ir...
Agora ela segurava mais forte ainda minhas mãos. Eu senti um pouco de dor, mas não liguei. Sentei na beirada da cama e sorri.
- Você sairá bem dessa! – Eu disse, confiante. Nicole estava fraca, mal conseguia abrir sua boca e dizer tudo que precisava. Ela estava mais pálida do que de costume, seu cabelo castanho e liso perfeito não existia mais. Eu sentia muita pena dela, ela amava aquele cabelo.
- Assim eu espero! – Ela apertou minha mão com todas as forças agora e fechou bem os olhos, depois voltando ao normal. Algo não estava certo nessa maluquice.
- O que houve? Você esta bem? – Perguntei nervoso, quase pulando em cima dela de tão perto que fiquei.
- Guilherme... – Ela tentou dizer mais alguma coisa, mas foi interrompida pela fraqueza.
- Nicole, fala comigo! Não me deixa nervoso assim! Enfermeira! – Gritei, bem alto, mas ninguém me ouvirá.
- Eu... – Ela tentava continuar. – Te amo! – E ela parou, estava estatua agora.
- Nicole? – Suas mãos largaram as minhas, estavam soltas. Seus olhos paralisaram em encontro com os meus. Seu coração não batia mais. E eu chorava com todas as lagrimas que conseguia encontrar em mim.
Eu queria gritar agora, gritar bem alto. E foi o que eu fiz. Dei um berro tão alto que fez com que duas enfermeiras e um médico aparecessem.
Eu segurei a mão de Nicole forte agora, não querendo soltar nunca mais. Eu precisava dela ali comigo de novo, eu não queria saber de viver sem ela. A enfermeira se aproximou e pôs a mão em meu ombro, tentando me consolar. Eu chorava demais.
Coloquei a mão na minha testa e eu pensei: “Por que? Por que ela, não eu?”
Pude ouvir o médico e a outra enfermeira falando com os outros: “A paciente Nicole Mendes morreu. Tirem ela daqui”
- Acho melhor você sair daqui agora! – A enfermeira sussurrou pra mim.
- Não! – Eu gritei e empurrei ela até que ela caiu no chão. Eu me aproximei de Nicole ainda mais, eu precisava saber se havia uma segunda chance para a vida. – Nicole, acorda, por favor! – Tentei ressuscitá-la, mesmo sabendo que seria impossível pra eu fazer isso.
Quando percebi que os médicos estavam trazendo uma bolsa grande o suficiente para ela caber ali dentro e dizendo “Não tem mais jeito. Ela morreu, esquece cara!”. Será que ninguém me entende nessa merda? Cadê os pais dela, cadê todo mundo? Só vejo eu aqui e os médicos doidos para se livrar do cadáver.
Eu a beijei, antes que pudessem se aproximar mais. Soltei sua mão com cuidado e me afastei, observando toda a cena que seria marcada na minha vida pra sempre. Os médicos a tiraram dali. Eu chorava demais, eu havia perdido a mulher da minha vida. A quem eu havia prometido amor eterno e que iria viver ao seu lado para sempre. Eu não queria saber de outra coisa, a não ser estar com ela.
Sai correndo dali. O corredor quase vazio, bem iluminado. Eu corri até o fim, até a ultima porta. Lá encontrei uma faca, muito afiada pro meu gosto. Eu estava com raiva e saudades já. Não pensei duas vezes, comecei a passar a faca sobre meu pulso.
Quando fui cortar, algo me interrompeu.
- Guilherme? – Uma voz familiar disse confusa. Olhei pra trás e vi minha mãe que ao ver a faca e o pouco de sangue se aproximou, arrancando-a de minhas mãos.
- Mãe, não estraga as coisas!
- Estragar as coisas? Você quem ia se matar. Ta louco? Vai se matar por causa da Nicole? Não cometa um suicídio tão estúpido assim Guilherme. – Ela ficou com raiva e me arrastou para fora dali.
Todos estavam chocados, mas eu estava pior. Isso ninguém podia discordar. Eu a amava tanto, amava ter um motivo pra acordar de manha e de repente esse sonho acaba. Agora com quem compartilharei meus segredos? Eu não tenho um amigo que eu possa confiar. A minha única amiga verdadeira acabou de morrer e levou meu coração com ela.
O enterro, ao ar livre, num cemitério perto de nossas casas. Foi horrível, estava sol e alguns usavam um guarda chuva para se proteger. Eu estava todo de preto e óculos escuros. Eu estava sério e ignorava qualquer otário que vinha até mim e falava “sinto muito pela sua namorada!”. Odeio ser consolado por parentes que antes não se lembravam de mim.
Nicole estava de vestido dentro daquele caixão. O mesmo vestido que usou no dia em que a pedi em namoro. Quando estávamos na praça em plena noite, havíamos acabado de jantar em um restaurante hiper caro e chique que acabou com a minha mesada. Eu me lembro como se fosse hoje, ela tinha ficado muito feliz quando a pedi para ser a minha namorada. O nosso amor aumentava a cada dia. E ontem eu há vi morrer em minhas mãos, na minha frente. Foi dor demais pra eu ver aquela cena. E seu coração não pôde bater mais uma vez só pra ela ouvir que eu também a amava mais uma vez.
Eu não aquentei ver aqueles homens colocando o caixão dentro do buraco. Quase me joguei lá dentro para impedir que a areia fosse jogada por cima. Minha mãe sussurrava “Olha a vergonha que esta passando!”, mas eu não ligava. Nesse momento eu não ligava pra nada, a não ser Nicole. Eu ainda tinha esperanças que ela voltaria a respirar naquele caixão. Eu tinha esperanças que eu iria ouvir sua bela voz mais uma vez. Eu tinha esperanças de que ela sairia do caixão e fosse me abraçar.
Quer saber? Eu já sofri demais e com certeza vou sofrer mais. Com o tempo descobri que não há nada melhor que amar. Mas eu a prometi amor eterno, estando ela aqui ou não. Será só eu e o passado, vivendo juntos para sempre. Eu não quero outro alguém há não ser Nicole. E será sempre assim, não amarei de novo. Pôs meu coração só pertence a uma pessoa e pra sempre pertencerá.
No mesmo momento daquele enterro horrível pra mim, lembrei-me de uma música: “O que eu estou fazendo aqui? Por que de repente eu desapareci? E, querida, por que eu não estou contigo? Eu consigo ver o mundo de onde eu pertenço. Consigo ver que você está perdida e precisa de uma mão, mas, agora, eu não consigo te alcançar.”
De algum modo me encaixei perfeitamente com ela. O enterro foi uma droga, mas não resisti e em nenhum momento sai de lá como alguns impacientes. No final, todos foram embora. Excerto eu, que permaneci o dia todo ao lado daquele tumulo. Peguei um papel e uma caneta e escrevi uma carta ali mesmo. Era pra Nicole. Eu a li em voz alta, talvez ela pudesse ler lá de cima. Lá do céu, onde ela viveria por toda eternidade.
Eu pus a carta no meu bolso depois, eu iria guardá-la pra sempre, assim eu poderia ler quando estivesse triste ou só. E eu sofri por mais um ano, a dor diminuiu, mas eu ignorei qualquer uma que me queria. Pois foi esse o dia que prometi amar só Nicole.
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